segunda-feira, 20 de julho de 2009

Entrevista p/ Revista "Unibanco"


1- Como nasceu o projecto Stoplastic?
Como Jornalista Freelance sempre tentei canalizar as minhas atenções para o Mar e a Vida Marinha, de modo a produzir informação científica de forma descodificada para o grande público. Há cerca de três anos abordei, como tema de reportagem, o problema do plástico no Mar. Ao informar-me e confirmar dados com fontes credíveis, acreditei ser possível não só conseguir informar, mas também agir, partilhar e conhecer melhor o problema. Assim, o que podia ser só mais uma reportagem, passou a projecto e de projecto a realidade.
2- Como podemos defini-lo?
A STOPlastic tem como base uma nova abordagem dos problemas ambientais, tentando promover várias acções de carácter Local, que no seu conjunto se tornarão benefício Global. Definimos quatro áreas de acção, onde o espírito local possa ter reflexo no benefício Global.
São elas:
1. O conhecimento científico
2. A partilha de Informação
3. A sensibilização e Acção Local
4. A garantia que o projecto tem futuro
Assim, a iniciativa STOPlastic é composta por:
• Um estudo científico e expedições oceanográficas para recolha de informação.
• A criação de um Blogue e um WebSite para partilha de informação, nomeadamente um mapa inédito e em constante evolução sobre o comportamento do Plástico no Mar.
• A promoção de Palestras, Posters Informativos e limpezas de Praia ou Oceânicas, com o apoio de entidades e agentes locais, especialmente dedicadas a voluntários motivados e ao público infantil/juvenil. Também aqui se aposta na reunião de esforços e conhecimentos locais, para que cientistas, moradores, pescadores e autoridades se unam no esforço local que lhes pedimos.
• O estabelecimento e criação formal da Associação STOPlastic, com a intervenção das parcerias actuais e futuras, garantindo a continuidade do esforço mais de que justificado.

3- Pese todos os alertas e maior conhecimento de causa, confirma que as pessoas continuam a não respeitar os Oceanos?
É verdade que muitas pessoas continuam a não respeitar os Oceanos e por variadíssimas razões, sendo que a ignorância é a maior das culpadas. No entanto, seria injusto culpar alguns dos nossos compatriotas pela totalidade do mal causado. Se tem de ser apontado um culpado certamente que serão todos os decisores deste país e outros que, por um qualquer erro estratégico, decidiram que o melhor ensino ambiental devia estar nas grandes cidades e não junto das comunidades piscatórias e pobres. Muitas dessas comunidades são de facto poluidoras e resistem aos alertas nacionais, globais e universais sobre o problema. Mas também há muita gente que se diz amante da natureza e é incapaz de agir preferindo culpar os outros; a verdade é que a gentes mais ligadas ao Oceano e à vida piscatória são o elo mais fraco da cadeia de pessoas que tiram rendimentos justos do nosso histórico "Mar Portuguez". A vontade de os ajudar a manter o seu nobre modo de vida e a proteger o Mar como sua fonte de sustento, é... quase nula.
Os verdadeiros culpados são então os sucessivos Governos da nossa alternância "democrática" que viraram costas ao nosso bem mais precioso, o Mar, contentando-se com a cauda da Europa e virando costas à imagem pessoana de Portugal como cabeça da Europa, virada para o Mar, tendo como braço de apoio a península itálica, olhando para poente, tentando desbravar o imenso Mar.

5- Quais as principais consequências deste desrespeito pela natureza?
Para além da comprovada morte de animais por via de plástico no Mar, tema do nosso primeiro Poster, a preocupação é também centrada na questão do micro-plástico e sua concentração em vórtices algures no Oceano. Neste momento, o trabalho será colocar as perguntas certas e definir objectivos antes de passar à acção. Só assim poderemos medir ou prever as consequências desta ameaça. Infelizmente, sabe-se muito pouco sobre consequências directas em habitats, populações e ecossistemas; quase nenhuns dados estatísticos. Porém, a atenção mundial para o problema tem crescido e, à medida que mais se sabe, essa preocupação cresce. Desde que o plástico foi inventado, até há muito pouco tempo, cerca de 10% de toda a produção mundial foi parar ao Mar. Só é proibido lançar detritos inorgânicos no Mar há duas décadas. Ainda hoje, estima-se que, dos 10 bilhões de toneladas de plástico produzidas anualmente, cerca de 10 por cento da produção acaba por ser despejada no Oceano. É um problema enorme e ainda sem soluções ou conhecimento factual exaustivo.
6- Quais as principais acções levadas a cabo pela Stoplastic e qual tem sido a reacção das pessoas/populações locais?
Este ano estão previstas várias actividades, nomeadamente as referidas acima. Quanto à reacção das pessoas e principalmente dos locais e crianças superámos algumas expectativas. Sempre baseando o nosso trabalho na motivação dos agentes locais e sua participação activa. Depois, felizmente há crianças. São elas que dão força para continuar, são elas que dão o exemplo aos adultos, são elas que, depois de um dia de festa a apanhar plástico, nunca mais esquecem da diferença entre uma casca de banana atirada ao Mar e uma argola de plástico que eventualmente poderá matar uma tartaruga ou vir a entrar na nossa cadeia alimentar.
7- Têm contado com alguns apoios?
Os apoios que procuramos nas acções locais têm aparecido com sincera vontade de colaborar no projecto local que lhes propomos. Na Ilha Terceira, e no espaço de dias, mais de uma dúzia de importantes agentes locais se prontificaram para ajudar. Quer a Câmara Municipal de Angra do Heroísmo, a Junta de Freguesia de S. Mateus da Calheta, o jornal Diário Insular, a Capitania do Porto de Angra, o Hotel do Caracol e seu Wellness Center, a Agência de Viagens Angra Travel, a associação ambientalista local, Gê-Questa, entre vários voluntários motivados e necessários para sucesso final. Contamos também com o apoio da EDP e da Força Aérea Portuguesa, respectivamente, quem ofereceu os brindes às crianças e quem as transportou.
No campo das parcerias, o projecto STOPlastic conta com o apoio da Marinha Portuguesa e respectivo Instituto Hidrográfico, do Departamento de Oceanografia e Pescas da Universidade dos Açores, da Secretaria Regional do Ambiente e Mar do Governo dos Açores e do IMAR - Instituto do Mar.
8- O que deve fazer alguém que queira juntar-se ao Stoplastic?
No Plano de Actividades para 2009 estão previstas reuniões com os parceiros para melhor definir os moldes da futura Associação STOPlastic. No entanto, é muito fácil juntar-se ao STOPlastic. Qualquer pessoa pode preparar a sua acção local e nem precisa de muitos apoios. Basta pensar que gradual e individualmente podemos agir e globalmente inverter este processo poluidor, passando a retirar plástico das zonas costeiras em vez de o deixar à mercê das marés, ventos e lenta decomposição em micro-plástico. Curiosamente, nas acções com crianças essa inversão é quase imediata. Mesmo depois de acabar a festa há sempre um participante mais novo que encontra um pouco de plástico no chão e atravessa a rua para o colocar no contentor apropriado. É sempre a melhor recompensa deste trabalho.

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